No nº 33 da Rua Hollis, em Boston, estado de Massachussetts, em 19 de janeiro de 1809, começava uma história extraordinária, nascia Edgar Allan Poe. Sua vida foi marcada por contínuos acontecimentos bastante incomuns, muitos resultantes de seu gênio criativo e temperamental.
Os pais de Poe eram David Poe e Elizabeth Arnold Poe (consta em algumas biografias que o nome era Izabel). David, nascido em Baltimore (Maryland), estudou Direito, mas abandonou o curso para seguir carreira teatral, porém, não era provido de talento. Elizabeth era viúva quando conheceu David. Filha de um casal de atores, nasceu em Londres e também era atriz, e, ao que parece, mais talentosa e carismática que David, e muito respeitada.
E foi nesse meio teatral que ambos se conheceram e vieram a se casar em 1806.
Em 1810, David Poe desaparece, deixando Elizabeth com dois filhos pequenos, Henry e Edgar Poe, e grávida de outro, uma menina, Rosalie, que nasceria naquele mesmo ano, em Norfolk. Alguns biógrafos acreditam que David Poe falecera, outros que simplesmente abandonou a esposa.
Elizabeth Poe viveu então entre o trabalho no teatro e a criação dos filhos. Não tendo como sustentar as três crianças, envia Henry, o filho mais velho, para viver com os avós paternos em Baltimore.
Sua situação de penúria se torna pública, o que é comprovado por um anúncio de um jornal de Norfolk que pedia ajuda para ela. Por essa época, Poe tinha dois anos de idade e Rosalie apenas alguns meses.
Elizabeth, muito doente, muda-se com os filhos para Richmond, no estado da Virgínia, e a pequena família Poe vai viver em um humilde quarto de pensão de propriedade de uma senhora, Mme. Phillips, assim descrito: O quarto onde Elizabeth definhava era pequeno e humilde e nada havia para queimar na lareira. Naquele ano, o rio James tinha transbordado, invadindo a parte baixa de Main Street e algumas casas mais distantes; os mosquitos, portanto a malária, pululavam. Não havia outra peça a não ser uma miserável cama munida de uma enxerga, um ou dois cobertores, cedidos por Mme. Phillips, uma ou duas cadeiras velhas, e certamente havia uma caminha com rodas para as crianças. O quarto era iluminado à noite por pedaços de velas colocados em garrafas. Os objetos pessoais da atriz deviam ser os mais modestos: alguns ouropéis de teatro desbotados e sujos, únicos testemunhos de triunfos passados, uma pequena caixa em que Elizabeth guardava suas cartas, e as roupas esfarrapadas das crianças.
E foi nesse quadro de desolação e pobreza extrema que o pequeno Edgar Poe viu sua mãe definhar e morrer. Elizabeth morreu em 8 de dezembro de 1811, deixando seus filhos completamente sós e desamparados, dependentes da caridade alheia.
|
Elizabeth Arnold Poe |
A morte de Elizabeth marca o fim de uma fase da vida de Poe e a partir desse momento, ele passa a transferir o amor materno para outras mulheres que surgiriam em sua vida. A irmã de Poe, Rosalie, que morreu com idade avançada em um asilo, passou a exercer uma grande influência na vida do poeta, influência essa que se refletirá em quase toda sua obra. Para Poe, Rosalie representa, há um mesmo tempo, a figura materna que ambos não tiveram e a mulher abandonada e sozinha.
Logo após a morte da mãe, o pequeno Edgar sofre mais uma separação. Sua irmã é levada por um casal, os MacKenzie, e ele vai morar com a Sra. Frances Kelling Valentine Allan, que já o conhecia da pensão de Mme. Phillips e, não tendo filhos, levou-o para viver com ela e o marido, John Allan, em Richmond.
Separar-se da pequena irmã foi mais um grande golpe na vida do escritor que sempre pedia para vê-la.
|
Rosalie MacKenzieA |
Em 1815, a família Allan se muda para a Inglaterra levando o pequeno Edgar, que é deixado numa escola primária de Irvine, Escócia.
(...)